segunda-feira, 3 de junho de 2013

O amor depois do divórcio

  

  Os promotores de justiça sabem. Os juízes sabem. Os terapeutas sabem. Os massoterapeutas sabem. As faxineiras sabem.
  Nunca houve tanta reconciliação. Mais do que casamento e divórcio.
  A reconciliação é o amor autêntico. O amor bandido que se converteu à lei. O amor bêbado que largou o álcool. O amor drogado que fugiu dos vícios.
  A reconciliação é o amor depois das férias, recuperado da perseguição dos defeitos e da distorção das conversas.
  É o amor depois da mentira, depois do tribunal, depois da maldade da sinceridade, depois da carência.
  Casais que se prometeram o inferno, que disputaram a guarda na Justiça, que enlouqueceram os filhos com suas conspirações, decidem voltar a morar junto, para temor dos vizinhos, para o susto da parentada.
  A reconciliação é uma moda entre os divorciados.
  Mal se acostumam com o nome de solteiro e se envolvem com os mesmos parceiros. Mas os mesmos parceiros são outros. Outros novos.
  A distância elimina a culpa. A falta filtra a cobrança.
  Eles experimentaram um tempo sozinhos para descobrir que se matavam por uma idealização.
  Enfrentaram relacionamentos diferentes, exageros e excessos, contemporizaram os medos e as rejeições, provaram de frustrações amorosas.
  Viram que o príncipe se vestia mal, e o sapo coaxava bonito.
  Viram que não existe demônio ou santo no amor. Não existe certo ou errado, existe o amor e ponto.
  Este amor provisório, inconstante, inacabado e vivo.
  Este amor pano de prato, não toalha de mesa, mas que serve para secar a louça e as lágrimas.
  Quem era ciumento retorna equilibrado, quem era indiferente regressa atento.
  A trégua salva e refina o comportamento. O casal passa a adotar no dia-a-dia aquilo que não admitia fazer e que o outro recomendava.
  O que soava como crítica antigamente passa a ser conselho.
  Gordos emagrecem com exercícios físicos, brabos examinam seus ataques de fúria.
  A saudade era um recalque e se transforma em sabedoria.
  O par percebe que é melhor ser inexato do que inexistente.
  Durante a separação, ninguém aceita ressalva e exame de consciência.
  A separação é soberba, escandalosa, arrogante. Todos gritam e espalham os motivos da discórdia.
  Já a reconciliação é humilde, ouvinte, discreta. Os amantes cochicham juras e esquecem as falhas. Baixam as exigências para aperfeiçoar o entendimento.
  A reconciliação é o amor maduro, o amor que ressuscitou, o amor que desistiu de brigar por besteiras e intrigas.
  O amor que é mão dada entre o erro e o perdão. Mas que agora pretende envelhecer de mãos dadas para sempre. 

Fabrício Carpinejar, 17/03/2013

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