quinta-feira, 9 de julho de 2009

Ernest Hemingway, o boêmio escritor nasceu há 110 anos


"A vida de qualquer homem termina da mesma maneira. São os detalhes de como ele viveu e como morreu que distinguem um homem do outro", disse Ernest Hemingway, um dos maiores escritores que o mundo conheceu e que viveu uma vida distinta e invejável. Nascido Oak Park, no estado de Illinois, nos Estados Unidos, no dia 21 de julho de 1988, Hemingway foi jornalista, combatente, escritor, ateu e ganhador dos prêmios Pulitzer e Nobel e legou ao mundo obras inesquecíveis como O Sol Também Se Levanta, Adeus às Armas e O Velho e o Mar.
Esportista e caçador na adolescência, começou a trabalhar cedo no jornal The Kansas City Star onde desenvolveu um estilo de escrever que o acompanhou por toda a vida e se resumia em quatro lições básicas: use frases curtas; faça um primeiro parágrafo curto; use uma linguagem vigorosa; seja positivo, nunca negativo. Depois de seis meses trabalhando para o jornal, tentou se alistar no exército americano para combater na Primeira Guerra Mundial, mas recusado e juntou-se à Cruz Vermelha.
Chegando à Itália, Hemingway teve de recolher corpos de uma fábrica de munições que havia explodido em um ataque. O primeiro encontro com a morte o abalou profundamente e o influenciou em temas mais humanistas e horrores das guerras. Ferido gravemente no joelho em 1918 e encerrando sua carreira de motorista de ambulância, voltou aos Estados Unidos, foi morar na divisa com o Canadá e trabalhou no jornal Toronto Star.
Em 1921, após se casar com Hadley Richardson, com quem teve um filho, tornou-se correspondente estrangeiro em Paris, para cobrir a guerra entre Grécia e Turquia e acabou se unindo ao Movimento Modernista Parisiense, encabeçado principalmente por Gertrude Stein e Ezra Pound, que se tornaram seus mentores. Essa experiência de expatriado americano lhe inspiraria mais tarde a obra Paris é Uma Festa.
Retornando ao Canadá em 1923, o escritor passou a ter problemas com seu editor, Harry Hindmarsh, e acabou se demitindo do jornal em dezembro daquele ano, apesar de continuar a colaborar esporadicamente até 1924. Em 1925, Hemingway publicou sua primeira coletânea de contos, In Our Time. Um ano depois, brindou o mundo com O Sol Também se Levanta, uma novela com traços autobiográficos sobre um americano em Paris e na Espanha.
Em 1927, divorciou-se de Hadley para se casar com Pauline Pfeiffer, repórter de moda de revistas com Vanity Fair e Vogue, ele também se converteu ao catolicismo. Acabou mudando-se para Key West, na Flórida, e publicou mais um livro de contos, Men Without Women. Em 1928, seu pai, acometido por diabetes e problemas financeiros, se matou e provocou um grande impacto em sua vida, além de o inspirar a construir o pai do personagem Robert Jordan, de Por Quem os Sinos Dobram, também um suicida. Neste mesmo ano, nasce seu segundo filho em um parto difícil que depois lhe inspiraria a cena final de Adeus às Armas. Publicado em 1929, o livro conta a história de um soldado americano que se envolve com uma enfermeira inglesa na guerra, muito baseada em sua relação com outra integrante da Cruz Vermelha, Agnes von Kurowsky, quando na Itália. O sucesso de vendas do livro o tornou financeiramente independente.
Em 1932, publicou Morte à Tarde, focando mais uma vez as touradas espanholas, mas de uma maneira quase religiosa, como se tudo fosse uma cerimônia ou um ritual. Ele mesmo alimentava o sonho de se tornar um toureiro profissional. Um ano depois, graças a uma malfadada experiência em um safári por Nairóbi (onde caiu doente devido a problemas intestinais), escreveu As Neves do Kilimanjaro. Entre 1935 e 1937, viveu em Bimini, nas Bahamas, onde publicou To Have or Have Not, que depois seria usado como base para o filme Uma Aventura em Martinica, com Humphey Bogart e Lauren Baccal.
Em 1936, foi cobrir a Guerra Civil Espanhola para a aliança de jornais americanos e acabou apoiando o lado republicano, contrário ao fascismo de Franco. Essa posição contribuiu para o fim de seu casamento com Pauline, católica fervorosa, e mais voltada para o ditador apoiado pela igreja. Toda sua experiência no conflito iria lhe inspirar uma série de contos curtos lançados somente em 1969, como A Quinta Coluna e Quatro Histórias da Guerra Civil Espanhola, e a novela de grande sucesso Por Quem os Sinos Dobram, de 1940.
Divorciado de Pauline, que ficou com a casa de Key West, e tendo que se retirar da Espanha, Hemingway se casou com Martha Gellhorn, companheira de sua passagem em terras espanholas. Com o início da participação americana na Segunda Guerra Mundial, o escritor teve finalmente a chance de participar de uma batalha marítima quando seu navio afundou um submarino alemão e assistiu ao desembarque do Dia-D como jornalista em uma embarcação (reza a lenda que ele espumou de raiva ao saber que sua esposa, também repórter, conseguiu estar na praia, na hora da invasão aliada, disfarçada de enfermeira). Além disso, participou da liberação de Paris.
Mais uma vez divorciado em 1944, acabou se casando pela quarta vez com a correspondente de guerra Mary Welsh Hemingway e foi viver em Cuba, onde começou a planejar sua trilogia do mar, que geraria um de seus mais conhecidos sucessos, O Velho e o Mar, publicado inicialmente em 1952. A obra acabaria ganhando um prêmio Pulitzer em 1953 e lhe daria um Nobel de Literatura um ano depois.
Durante um safári na África, em 1954, sofreu duas sucessivas quedas de avião que lhe deram ferimentos terríveis em todo o corpo. Apesar de conseguir se recuperar, problemas causados pela ingestão exagerada de bebidas alcoólicas começaram a despontar com pressão e colesterol altíssimos, além de sintomas de depressão.
Em 1959, mesmo com a tomada do poder em Cuba por Fidel Castro, Hemingway decidiu continuar morando no país e mantinha boas relações com o ditador, apesar de não perdoá-lo por ter mandando matar alguns amigos. Em 1960, deixou a ilha e sua casa se tornou um museu em sua homenagem. Depois de um tratamento médico à base de choques na Mayo Clinic, sofrendo de amnésia e com graves problemas de saúde, Hemingway se matou na primavera de 1961, dando um tiro na cabeça.
Sua influência na literatura e no jornalismo moderno é imensa. J.D. Salinger, o recluso autor de O Apanhador no Campo de Centeio passou anos se correspondendo com Hemingway. Mesmo Hunter S. Thompson, fundador do jornalista gonzo, inspirava-se abertamente no mestre e acabou se matando em 2005 da mesma maneira que o escritor.
Hemingway afirmou certa vez que todos os bons livros são parecidos quando são mais verdadeiros do que se tivessem acontecido de verdade, e quando você termina de ler um tem a sensação de que aquilo aconteceu com você e que tudo aquilo te pertence. É só ler alguma de suas obras para saber que ele, mais do que ninguém, levava esse lema a sério.
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Texto: Claudio R S Pucci
Foto: Getty Images

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